segunda-feira, 12 de maio de 2008



* Artigo retirado do Jornal O NORTE. 07 de maio de 2008. Colunista José Euflávio.

“Na década de 70, do século passado, os cursos de Comunicação Social da UFPB e UEPB (antiga URNe) jogaram no mercado de jornalismo da Paraíba os primeiros jornalistas formados. Isso quase gerou uma guerra entre os diplomados e não diplomados.
Os não diplomados eram os jornalistas mais antigos, mais experientes, que dominavam as redações dos meios de comunicação do Estado. Os diplomados eram jovens que passaram pela Universidade em plena vigência do Regime Militar que assustou o país por mais de 20 anos.
O estilo dessa meninada era “descolado” no modo de vestir. Todos tinham os cabelões e andavam com enormes bolsas de couro a tiracolo. Todos foram trabalhar nas editoriais de Cidade ou de Cultura nos jornais da cidade.
O NORTE, por ser o maior jornal, o mais lido e o primeiro na Paraíba a implantar o sistema off-set, era o mais procurado. Ser repórter de O NORTE, sob o comando de Evandro Nóbrega (Editor), Júlio Santana (Chefe de reportagem) e Marcos Tavares (Secretário da redação) era sinal de prestigio na cidade e a gente fazia uso disso.
De minha parte impressionava-me freqüentar secretarias, escritórios de gente famosa, gabinetes oficiais, repartições públicas e ser recebido por todos com respeito e distinção. Ora, eu vinha lá de Sant´Ana do Garrotes, havia morado na Casa do Estudante, comia em restaurante universitário nunca me imaginava freqüentando esses ambientes. Mas era real.
Nessa época conheci muita gente rica, poderosa e famosa. E bêbados, pobres agricultores em constantes conflitos com os proprietários de terras. Mas me chamava a atenção a forma de receber do secretário da Agricultura, Marcos Baracuhy, do superintendente do Iapas, Amir Gaudêncio, e do assessor de imprensa da Saelpa, Ivan Yplá Treves.
...
Nessa época os jornais funcionavam nos dias de sábado. E aí os jornalistas mais antigos aproveitavam para fazer gozações e pregar peças nos novatos.
Carlos César, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Paraíba, era repórter de Cidade e Chico Pinto da editora Política. Numa manhã de sábado, Carlos chega à redação sem uma única matéria. Chico Pinto resolve fazer uma pegadinha com Carlos.
- Olha, Carlos César, tem uma excelente pauta aí. O Papa João Paulo II vai chegar ao Brasil e visitará Fortaleza – disse Chico.
- Sim, e daí? – perguntou Carlos César, dando a chance para Chico completar o seu plano.
- É que o Vaticano enviou um mensageiro para visitar Fortaleza e ele é aqui da Paraíba e está hospedado na casa de uns parentes lá no Conjunto dos Ipês, perto de Mandacaru. O nome dele é Cristiano Ribeiro Pinto – completou Chico Pinto.
Carlos pediu o endereço a Chico, chamou o fotógrafo Arion Carneiro e partiram, os dois, para o local indicado, Carlos, certo de que iria dar o maior “furo”, dando a manchete do jornal no domingo, o que era uma glória para os “focas” da época.
Caderninho e caneta nas mãos, Carlos bateu palmas no endereço indicado e apareceu uma jovem senhora.
- Eu gostaria de falar com o mensageiro do Papa, o senhor Cristiano Ribeiro Pinto – disse Carlos César.
A mulher ficou pasma diante de Carlos César, abriu um pequeno sorriso e disse para espanto de Carlos:
- O único Cristiano que tem aqui em casa é esse que está ali – respondeu a senhora, sob o olhar de espanto de Carlos César e as risadas de Arion Carneiro.
A mulher que atendeu Carlos César era a médica Rita de Cássia Ribeiro, esposa de Chico, e o menino era Cristiano Ribeiro Pinto, que encontrava-se sentado em um penico de plástico, fazendo o cocô na maior tranqüilidade do mundo.
Carlos passou meses intrigado de Chico e nunca mais lhe pediu uma pauta.”



[Ahh, talvez esse artigo fosse apenas mais uma história engraçada se nela não houvesse nada familiar. Chico Pinto - foto - é meu pai.]

Um comentário:

Unknown disse...

soberbinha...
agora sei de onde vem esse sarcasmo peculiar...

:D